24/01/2011

Restos

O carro vem silencioso. A meu lado, paira ainda o peso da tua presença. Oiço-te ao longe, muito para trás, com a voz suave, levemente aguda e completamente doce. Que cromo que sou por dizer estas coisas. O termos de chá verde que te levei e as migalhas das bolachas compradas em jeito de prenda de Natal tardia são os restos de ti que levo hoje para casa. E o rádio ainda insiste em não tocar o cd dos Deolinda, por despeito, por teimosia, por flagrante vontade em destruir aquele plano simples de te levar de novo ao concerto, por breves segundos que fossem. E por isso o carro vem ainda silencioso, com a memória tão, tão recente da tua voz. Procuro o termos às cegas, apalpando o banco onde minutos antes te sentaste, e abro-o. O vapor ainda cheira a quente e, a custo, fugindo ao susto do embate, sirvo-me com a caneca que usaste. Doce aroma a ti! O chá desaparece, o quente empalidece, são os teus lábios que sorvo, o teu aroma que consumo! Oh doce sabor a ti, que não nomeio para escapar à tua fúria divina, mas tu soas a carícia, uma doce e terna delícia e sim, eu calo-me, enquanto este chá durar, eu calo-me. E conduzo. Com o carro silencioso. A estrada vazia. E o ar cheio de ti.

4 comentários:

Anónimo disse...

como já tive oportunidade de expressar: "show!".
esta m****, não tm o botão do "like".

Anónimo disse...

hum... tão bom...

Anónimo disse...

Não há mais??!!

Bruno Brasil disse...

bom reler este texto...