14/11/2007

sonhar antes do sono

Quis deitar-me cedo esta noite, dormir como não durmo há semanas, sem conversas que caem no esquecimento digital ou monólogos que nunca se tornam diálogos. Deitei-me, cobri-me, ordenei-me que dormisse, mas o sono não surgiu. Armei-me em intelectual e li, outra vez a ler, sempre a ler a fingir, como se realmente lesse o que quer que fosse e não usasse as páginas como relógio para contar as horas que demoro a adormecer. Uma hora e o sono não vem. Já os sonhos, esses assombram-me noite e dia, como se tentassem martelar-me a clareza de espírito e fazer de mim um homem feliz a fingir, como a leitura. Não durmo, mas sonho. Talvez seja isso que me permite manter a sanidade, por discutível que seja. Não oiço vozes, talvez não veja vultos e falo com quem não está presente, é verdade, mas falo sempre com quem existe, com quem me pode responder, com quem eu quero que me responda, talvez, um dia, se o destino assim o quiser. E o destino, ou um simples acaso fortuito da vida, trouxe-me sonhos, sonhos em que sou um homem feliz e não um simples miúdo que escreve uns desabafos na hora de dormir. Outubro trouxe-me o sonho, o meu pequeno e insignificante sonho do Outubro Vermelho. E ainda que não durma, não quero acordar deste sonho de Outubro, quero ficar para sempre parado no tempo e no espaço, como uma pedra caída no chão e que ninguém chuta. Quero sonhar. Quero sonhar que vivo. Quero viver. Quero que me deixes sonhar contigo. Quero que me deixes viver contigo.

1 comentário:

polegar disse...

que tenhas o teu outubro vermelho, que te salte dos sonhos para as mãos, como um eterno pacote de castanhas quentinhas.