18/06/2007

Conto em Cabo Verde - parte VII

Adão é o primeiro a acordar. A secura da boca prova que ressonou, sem dúvida por estar virado de barriga para cima. Eva está deitada ao lado dele, aliás, quase em cima dele, a cabeça pousada no seu peito. “Pelo menos não se foi logo embora… Bolas, dói-me os tomates…” Adão interrompe os próprios pensamentos para levantar, suave e silenciosamente, o telemóvel. “Três da manhã? Bem, ainda é cedo, acho eu. A que horas é que ela disse que a mãe acordava? Bah, quando acordar que se preocupe ela com isso!” Eva parece ter-lhe ouvido os pensamentos. Começa a acordar, lentamente. A mão pousada sobre o peito dele estremece e começa a mover-se na direcção da barriga, desenhando-lhe riscos esbranquiçados na pele morena. Com alguma maldade e muita provocação, arranha-lhe suavemente o mamilo.

- Au. – protesta Adão, com um sorriso.

- É para aprenderes. – retribui Eva – Que horas são?

- Três da manhã, vi mesmo agora. A que horas tens de ir?

- Já me queres pôr daqui para fora? – Eva mantém-se imóvel.

- Bem… – Adão tem um sorriso trocista nos lábios e um certo temor nos olhos – A julgar pelas últimas noites, tu não precisas da minha ajuda para saíres à pressa…

Eva ergue-se na cama, passa uma perna por cima de Adão, senta-se sobre a sua barriga e debruça-se sobre ele, prendendo-lhe, ou tentando, os pulsos. Adão não consegue deixar de sorrir perante o movimento dos seios dela.

- Tu gostas mesmo de ser um filho da mãe sacana, não gostas?

- Querida, uma mulher nua em cima de mim faz e diz o que quiser de mim, mas isto de ter os pulsos presos... – com dois movimentos rápidos, Adão solta os pulsos e inverte as posições, ficando ele em cima dela, a prender-lhe as mãos – … não é para mim.

Ficam a fitar-se durante uns segundos, como se medissem as palavras antes de as dizerem. Por fim, é Adão que avança:

- Queres falar do que se tem passado ou nem por isso? É que estas últimas noites não têm sido muito normais e nem estou a falar do sexo com uma desconhecida, com isso posso eu bem, é mesmo do facto de, bem, de tu fugires a sete pés pouco depois de acabarmos e das duas uma, ou tu finges realmente bem os orgasmos e afinal ficas desiludida ou então tens um problemazinho qualquer no sótão. – Adão aponta com o queixo para a testa de Eva, aproveitando para respirar – Ora tendo em conta que tens voltado para repetir a dose, deixa-me ser convencido e deduzir que tens gostado, o que significa que o Tico e o Teco não estão a carburar a 100%...

- Uau… – é a resposta de Eva, passado algum tempo depois de Adão se calar.

- Que foi?

- Estou a tentar decifrar tudo o que disseste, seu gajo do Norte!

- Ah, sua… – Adão solta-lhe as mãos e passa-lhe rapidamente os dedos pelas ancas e pela barriga, levando-a a soltar um par de gargalhadas incontroladas – Goza agora, anda, goza! – pára quando a cara de Eva está tão vermelha que parece que vai explodir - Bom, mas afinal queres falar ou não?

- … Espera, deixa-me recuperar o fôlego… Parvo… Bem, é assim, na primeira noite, quando acabamos, adormeceste e não quis acordar-te, por isso fui embora. E ontem não gostei nada do que me disseste no fim. Pronto, foi isso.

- No fim? Mas eu disse alguma coisa no fim?

- Vês?! Por isso é que fui embora!

- Mas o que é que eu disse?! Não me digas que perguntei se gostaste, isso é do pior e se foi isso, atiro-me já da janela!

- Não.

- Mas então o quê?

- Pensa.

- Pá, são três da manhã, estou a precisar de um banho, aliás, estamos os dois e o sangue acabou de me escorrer todo para o outro cérebro, se é que me percebes, por isso não comeces com coisas...

- Amo-te… – diz Eva, insegura.

- Hum… Ok, tudo bem, mas diz-me o que foi que te disse que te enfur…

- Foi isso que me disseste, estúpido! – interrompe ela.

- O quê?!

- Tu disseste “Amo-te”.

- Eu?! – Adão tem o ar mais incrédulo que consegue fazer neste momento.

- Sim, tu!

- Mas, mas… Ouve, eu… Pá, mas qual é o problema?

- O problema é que, primeiro, disseste sem sentir, o que é óbvio, tendo em conta que nem te lembras, e, segundo, porque, quando disseste, deu para perceber que é algo que te sai com frequência, ou seja, fizeste-me sentir como uma pêgazinha qualquer que tu engatas por aí!

O silêncio torna-se desconfortável para ambos, mas nenhum sabe o que dizer ao certo.

- Olha, eu não estou à espera de nada nesta relação ou lá o que isto é, – começa Eva, por fim – mas há duas coisas que eu não quero: magoar-me e sentir-me uma pêga.

- Quanto ao pêga, ok, tens razão e peço desculpa. Sim, é verdade que o digo com alguma frequência e nunca com sentimento. Ou raramente com sentimento. Mas, quanto ao magoar-te… – Adão aproxima o seu rosto do de Eva – Aquilo que nós andamos a fazer, tendo em conta que vamos embora daqui a duas noites, não deve dar tempo para magoar, certo? – prende o olhar nos olhos dela, como se tentasse ler a resposta directamente da sua alma. Eva não responde, nem com o olhar, nem com a boca.

Acabam por se beijar, em silêncio, e por fazer amor, perdão, por fazer sexo, não amor, que isso pode magoar.

3 comentários:

polegar disse...

pronto, já entrámos na fase em que ela queria mais qualquer coisa e ele nem deu por isso...
vai haver molho... ai vai, vai... ;)

Anónimo disse...

Take your time...LOL. Se te faz esrever melhor,escolhe tua pena! BJ

pinky disse...

isto está a tomar forma,,,,agora tomadas de consciência! sin sr!
e mais?,,,,,,