O tipo que queria ganhar o Euromilhões, mas só conseguiu um 3
A notícia deixou-me de boca aberta. Na semana passada, joguei no Euromilhões. Andava desesperado, sem emprego, só tinha algum dinheiro de lado graças a uns biscates que fui fazendo. Decidi apostar tudo no Euromilhões e tentei fazer uma daquelas apostas múltiplas. Ao todo, gastei 1512€ para poder escolher nove números e quatro estrelas. O prémio tinha de ser meu, sentia que era o meu dia e, quando anunciaram que o primeiro prémio tinha saído para Portugal, soube que era meu. Mas não era. Quando vi os números, percebi que só tinha conseguido um 3. Um mísero 3, dois números e uma estrela, o último prémio, 8€ por 1512€. Desmaiei. E, quando acordei, foi como que o começo do Inferno para mim. No dia seguinte, os meus pais descobriram essa loucura e praticamente expulsaram-me de casa pela irresponsabilidade. Não podiam continuar a dar abrigo a alguém que não respeitava o dinheiro. Não me pediram para sair, mas eu percebi a mensagem. Não havia problema, ficava em casa da minha namorada. Mas, definitivamente, as coisas não corriam bem. Ela acolheu-me, sim, mas disse que tinha de ser uma coisa temporária, em parte porque não conseguia aceitar que eu tivesse feito algo tão infantil, em parte porque se estava a apaixonar por outra pessoa. Não aceitei a esmola, o abrigo, preferia dormir na rua a ser um empecilho. E assim aconteceu. Vendi a maior parte das minhas roupas, a maior parte das minhas posses também, mas ainda assim isso não era o suficiente para alugar uma casa. Passei duas noites ao relento até que tive uma ideia. Fiz-me passar por estudante e aluguei um quarto numa casa perto de uma universidade qualquer. A vida tinha de recomeçar e, mais do que nunca, precisava de um emprego. Parecia tudo saído de um pesadelo, em menos de vinte e quatro horas perdi pais e namorada e tinha dormido num banco de jardim. Mas o pesadelo ainda não tinha acabado. Nas notícias, disseram que o prémio tinha saído a nove pessoas, uma "sociedade”, e aposto que os sacanas também jogaram como eu. Os pulhas! Aquele prémio devia ser meu, todo meu e não de uns quaisquer labregos de uma terreola qualquer. A minha revolta deve ter sido proferida alta demais e, não tendo bem a certeza do que disse, foi ouvida pelos senhorios, que não acharam piada nenhuma aos meus comentários. Fui novamente expulso. Mas, agora que sabia o que devia fazer, arranjei logo outro quarto. O pior é que só tinha dinheiro para a primeira renda. Tinha passado praticamente uma semana, no dia seguinte seria dia de Euromilhões mais uma vez, mas desta vez não tinha como fazer uma mísera aposta que fosse. Agora tinha de roubar quando tinha fome ou de pedir nas ruas. Veio sexta-feira, o dia de extracção. Acordei determinado. Com fome, a barba de uma semana, praticamente só com duas mudas de roupa que já cheiravam mal. Nessa manhã, abordei um passador de droga numa rua deserta. Fiz-me passar por drogado e, quando ele virou costas para ir buscar o produto, matei-o à pedrada. Remexi-lhe os bolsos à procura de dinheiro e de outra coisa mais, uma arma. E lá estava ela. Já matei o primeiro, agora, os nove que ganharam o prémio que devia ser meu, vão ser canja. Nem me vão ver a cara. De alguma forma vou descobrir quem são. Agora tenho de ir a casa, ou melhor, ao quarto. Talvez consiga matar os meus senhorios sem ninguém dar por isso e, com um pouco de sorte, a polícia só os vai descobrir quando já os outros nove filhos da puta estiverem mortos e aí já não interessa, eu próprio já não devo estar vivo.
3 comentários:
fantástico. mesmo :)
xiiii essa imaginação anda galopante e o sentido de humor no seu melhor!
a nova imagem está mt gira, gostei das cores, agora só tens q mudar a barra de cima de azul para preto para ficar perfeito ;)
kiss kiss
Polegar: obrigado! suponho que só estou a exteriorizar aquilo que toda a gente pensa quando descobre que o prémio vem pra Portugal... Somos todos potenciais homicidas!;)
Pinky: bem, depois de tanta ausência, alguma coisa tinha de sair...
mudar a barra de azul para preto? oh mas eu gosto de azul!
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