Tempo morto
Os ponteiros movem-se, lentamente, enquanto fito os olhos azuis do Roger Rabbit. As horas que marcam são falsas; há muito que o tempo parou, e o movimento circular marca apenas uma tentativa vã de seguir em frente, de mostrar que, apesar de tudo, o passado foi e não volta. Mas parece que o passado volta sempre para nos atormentar… Não interessa. Neste momento, apetece-me ver o azul dos olhos do Roger Rabbit… Se calhar, estou a pensar nas pernas esculturais e nos seios fartos da Jessica Rabbit… Oh, e aqueles incríveis olhos verdes… Mas é mentira. Quem me dera estar a pensar numa qualquer personagem de um filme... Não estou. Estou a pensar no tempo morto. Estou a pensar na inutilidade do movimento daqueles ponteiros azuis e vermelhos. Como se eu precisasse de saber quanto tempo ficou para trás ou quanto tempo tenho pela frente. Como se eu precisasse de saber que fico acordado até tarde, demasiado tarde, porque a porcaria do passado não sabe ver as horas e, consequentemente, não sabe que o seu tempo já passou e que agora mais não é do que tempo morto! Mas não o culpo. Sou eu, que sei ver as horas, que o tento ressuscitar, qual experiência de Frankenstein, cheio de cicatrizes e dor e capaz apenas de se arrastar sobre uma das pernas, enquanto aterroriza todos por quem passa. Mas eu não sou Doutor, não percebo nada de dar vida e a experiência acaba sempre por voltar a morrer e regressar para o abismo de onde nunca devia ter saído. Mas continuo a olhar para o tempo morto. Só de vez em quando, porque, por bonito e fofinho que seja o Roger Rabbit, tenho mais do que fazer do que estar sempre a suspirar por quem não quer voltar e muito menos tenho paciência para sentir pena de mim próprio! O tempo está morto neste momento, mas lá fora há vida à minha espera!
Um dia, vou ajudar a criar vida e o meu primogénito vai ter este relógio no quarto. E o tempo nunca mais vai morrer!
4 comentários:
faz esta promessa a ti mesmo: um dia que valha a pena, vais ter um relógio gigante para teres sempre as horas perto de ti. e vingares-te dos tempos em que o tempo te angustiava. porque hão-de haver horas boas.
já tás a tratar das heranças...?
Afinal o q é o tempo?...
Pois é, o tempo atormenta-nos, o tempo de momentos tão bons q vivemos no passado e em que os ponteiros andaram depressa demais, mas qd esses momentos são apenas isso, passado, os ponteiros resolvem adoptar uma marcha lenta, muito lenta, para que o nosso tormento interior não falhe...Até agora tem sido assim:acordar de manhã, vestir a fatiota do bem disposto, que nao tem passado que o atormente que escuta os desabafos dos outros e que tenta (à sua maneira mto própria) dar ânimo e dizer q tudo vai ficar bem.
Mas sei que não é assim,pq sei por experiência pessoal que há coisas que nunca se esquecem, que nos perseguem e que por mais q lutemos contra elas, fazem sempre questão de mostrar que estão lá.
Depois acredita-se que dias melhores virão, mas no fundo sabemos que não é assim... As marcas do passado são como tatuagens e não há laser que as remova.Embora não tenham cura, pode-se aprender a lidar com elas. A minha maneira de lidar com isso, é tentar não transparecer o tumulto que vai cá dentro, tentar mostrar que está tudo bem.Mas sei que não está e à noite, na cama, isso confirma-se, o silêncio deixa que o passado tome conta de mim e nessa altura não da pra disfarçar, o gelo quebra-se, as lágrimas invadem-me...
Se pudesse mudaria muita coisa, voltava a nascer e queria tudo diferente, mas isso não é possível, portanto há que viver o melhor possível com esta vida que me calhou na rifa.. e já tou a falar de mais, nem sou m muito dessas coisas, mas em frente ao monitor até consegui :)
abraço, estranho!
Enviar um comentário