17/02/2005

Os dois Fantasmas

Tenho dois fantasmas diante de mim, um ri, o outro chora. Falam comigo numa língua que já não ouvia há muito tempo; das suas bocas, é o som da minha própria voz que sai. Falamos a noite toda, trocamos ideias, contamos segredos, revelamos medos. Ao amanhecer, ambos se levantam e cada um pede-me que o acompanhe. Um chora, o outro ri. Um estende-me a mão, o outro aponta-me um caminho pela janela do quarto. Na mão de um está traçado um mapa, linhas que mostram um caminho, um caminho quase igual ao que vejo pela janela, mas mais pequeno, mais difícil de ver e de seguir. O que se vê da janela é mais luminoso e atractivo, mas mais longo e cansativo. Um ri, o outro chora. Perco-me em hipóteses, hesito em “Ses”, consumo-me em planos, projectos e sonhos e já não sei qual dos fantasmas chora e qual ri. Fundiram-se e dirigem-se a mim, agarram-me, invadem-me, violam-me o corpo e a alma, destroem o ser que sou. Agora, mais não sou do que um fantasma como eles… Mas eu rio e choro ao mesmo tempo.

1 comentário:

Damon disse...

(o Brasil escrever mais do que «gostei» é um grande elogio:-)

Mas eu também gostei deste pedaço de FICÇÃO...

«There's no such thing as ghosts»