22/02/2005

Um dia diferente

Sorrio, enquanto lágrimas me escorrem pela cara. Já quase não vejo nada, mas sinto uma leve comichão que começa a surgir no canto do olho (isto não é uma evocação de nenhuma música…). Mas estou a sorrir. Enquanto ouço a chuva escorrer pelas janelas (finalmente um pouco de chuva! Os bomtempo-dependentes que me perdoem, mas, BOLAS! Que saudades de ver o dia um pouco menos claro!) não consigo deixar de pensar que irónica que é a vida… Enquanto os meus olhos se fecham lentamente, fartos do ardor provocado por uma idiotice chamada ExOcin (hum… acho melhor tentar descobrir porque é que o rótulo diz “estéril” num canto…), sinto que a alma, mais uma vez, se abre. Mais do que abrir, ela flutua! Neste estado, não sinto dor. Consigo ver-me sentado numa cadeira em frente a um monitor; vejo também os vultos que sempre me rodeiam (agora percebo o que querem e porque não me deixam em paz…); vejo a minha mãe a começar a preparar o jantar e o meu cão à beira dela, na esperança de que caia alguma coisa para mostrar que é mais rápido do que a dona… Paro um pouco no telhado. Sento-me nas telhas molhadas, fecho os olhos e deixo que a chuva me caia pela cabeça. Lá se vai o penteado! Como se isso fosse importante… Reabro os olhos e, diante de mim… a vida. Vejo um pássaro, ao longe, desesperado por cobrir o ninho. Vejo uma árvore que dança ao som do vento. Vejo a silhueta de uma jovem que se veste em frente à janela e vejo também o vizinho que ela tenta seduzir. Sorrio ainda. Levanto-me, olho para cima, fixo uma nuvem mesmo por cima de mim. Distingo uma gota no preciso momento em que ela se desprende das outras gotas que formam esses pedaços de algodão flutuantes. Acompanho o seu trajecto até à minha testa. O seu toque desperta-me os sentidos como o beijo da mulher amada ao acordar. Lentamente, começo a minha viagem. Ergo-me cada vez mais nos céus. Vejo as casas de velhos amigos, algumas agora desabitadas, e vejo as casas de amigos de agora. Vejo a casa emprestada de uma amiga e imagino onde estarão as outras três oficiais (que complicada é a vida de filhos de pais separados…). Vejo as cidades onde essas pessoas moram, vejo o país onde estão essas cidades, constatando, com um misto de pena e sarcasmo, que Portugal está tão perto de Espanha. Enquanto subo mais e mais, confirmo que o meu país, o nosso país realmente faz parte da Europa… vejo África logo abaixo e ao lado, imaginem!, começa o Oriente, o dos Árabes e o dos Asiáticos, e, acreditem ou não, do outro lado ficam as Américas, e nos topos só se vê neve e, OLHA!, pinguins! Que engraçados… Atravesso agora a camada de ozono, começa a ficar mais frio… Começo a ver a Terra em toda a sua largura… Ouvi dizer que o planeta ficou mais redondo depois da tragédia do maremoto, mas não noto diferença… Pouso na Lua, sento-me numa das suas crateras e volto o meu olhar para a minha casa. O meu corpo ainda lá está, em frente ao monitor. O meu pai chegou a casa e beijou a minha mãe, como sempre fez em 26 anos… O planeta Terra parece-me tão pequeno agora… Tão imóvel e sossegado… Sorrio. Apetece-me cá ficar por uns tempos. Até já. Devia ter trazido as gotas para os olhos...

7 comentários:

Anónimo disse...

De parabéns, rapaz. Estás de parabéns.

Perdoa-me o atrevimento mas, se calhar, exageras nas reticências - o que pode ser sempre simbólico, mas... Percebeste?

O Estranho disse...

Por acaso também já pensei nisso, que exagero nas reticências, mas suponho que seja a minha forma de mostrar que há mais qualquer coisa para dizer... Isto porque acho sempre que há mais qualquer coisa para dizer! Sim, deve ser isso, é a minha forma de deixar qualquer coisa no ar. Além disso, um belo par de reticências deixa sempre uma marca de mistério... :)
Obrigado pela crítica, quem quer que sejas...

Anónimo disse...

É bom saber que te ergues aos céus, fazes uma viagem dessas e te lembras de mim...;)

.j. disse...

quando abri a secçao de comentários também te ia dizer que usas muito as reticencias, mas agora ja percebi ("a minha forma de mostrar que ha mais qualquer coisa"). quanto ao texto, só tenho uma coisa a dizer, quando quiseres dias menos claros podes sempre dar um saltinho até à Finlândia :) acredita que aqui não te vais queixar!!!!! (estou a escrever isto, embora hoje esteja sol...)

Pronto, já agora, obrigada pela traduçao do poema no borras. (como está o conto do boneco?ja começaste a escrever?).

Beijinhos e até loguinho, amigo estranho.

.j.

Anónimo disse...

Ai, reparei numa coisa... Olha que à espera de uma segunda oportunidade leva agá, tipo há espera... ai... ai... O Serafim puxa-te as orelhas.

Anónimo disse...

Olha... Eu postei antes desta advertência para o agá a dizer que achei a intervenção do anónimo (suponho que seja essa que confundiste com a minha excelsa pessoa...) pertinente mas não foi publicada... Censura... ? O que eu dizia era que é tudo estilo... E que ficava bem... E coisas... Abraço

Anónimo disse...

Não leva H nenhum, minha boa gente.