02/04/2008

a mesma história de sempre, climas diferentes

Por fim, acaba. É minha. Esperei 4 dias e 4 noites em frente a esta pedra e a demanda chega ao fim. Aqui, na minha mão, a rosa do deserto. Por 4 dias vi o sol fustigá-la, queimá-la, quase derretê-la como o aço do ferreiro, sempre batido, sempre incandescente. Por 4 noites vi as trevas gelarem-na, fenderem-na, parti-la. Aqui, na minha mão, a rosa do deserto que colhi para ela. A pele estala-me nos lábios, os ossos soltam-se da carne, mas aqui, na minha mão, para ela, a rosa do deserto…

Saímos de mãos dadas, usando luvas e cachecóis. Esse cachecol é meu e este é o teu. Os nossos cheiros misturam-se enquanto corremos pela avenida gelada, deserta. Está a nevar e quero tirar as luvas para sentir o ar, apesar dos teus avisos. Os dedos gelam com o vento e tu tomas a minha mão para a beijar. Pareces um anjo com pedaços de nuvem a flutuar à tua volta.

Ela prepara um chá de hortelã quando chego. A cobri-la, apenas um pedaço de tecido leve e transparente que ondula e revela com o vento quente. Estendo-me no chão, preparo o narghile e acendo-o. Ela senta-se ao meu lado, com o chá. Inspiro o fumo de maçã e canela e estendo-lhe o bocal. Bebo um gole e levanto-me, para me despir, segurando sempre a rosa do deserto. Ela ajuda-me, conhece bem o meu corpo. Estendo-lhe a mão aberta, com a pedra na palma. Oiço o seu coração disparar. Fazemos amor no tapete, abrigados pelas cortinas…

Deitamo-nos no chão, na relva coberta por um manto de neve furado por árvores de casca rija e branca. A neve cai-nos em cima e ficamos quietos até nos cobrir por completo. E então mexemo-nos, neste iglo de afecto, quente, quase fervente. O calor que a paixão solta protege-nos do frio, ainda que os nossos cabelos estejam brancos e as nossas peles geladas. Fazemos amor no chão, abrigados pela tempestade…

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