17/10/2007

Silêncio

Não há silêncio. A cabeça pousada na almofada não tem silêncio. O burburinho dos bichos que roem lentamente a madeira soa a chuva que cai ao de leve. Não há silêncio. A chuva cai-me nos tímpanos, trazendo prenúncios de tristeza, de planos estragados pelo fim de uma esplanada do tempo e da leitura quase forçada pela espera voluntária. Os ponteiros movem-se, bramindo os braços e vociferando as suas pesadas súplicas pelos ares, anunciando a demora, o atraso, a falta, batendo lentamente e marcando o passo da minha saudade. Passos. Inúmeros passos, apressados, vagarosos, incertos, conscientes, inúmeros passos que rodam e rodam sem parar, sem irem para lado nenhum, passos que não sigo e que não os faço os meus passos. Vozes. Roucas, suaves, solitárias, acompanhadas, vozes que sabem o que dizem e vozes que blasfemam loucuras, vozes que se indignam e vozes que pedem, que imploram, vozes que não oiço e que não peço para ouvir. Não há silêncio. Não durmo, não há silêncio. A tua ausência tira-me o silêncio, o silêncio que a tua voz me dá.

2 comentários:

pinky disse...

torna os passos teus.
torna a voz tua
torna tudo num diálogo doce
torna o silêncio em partilha
torna tudo isso em sorrisos!
do it! ;)
os comboios têem sempre os mesmos hórários,
as rotinas semanais raramente são alteradas...
entra nesse comboio...e deixa o silêncio dos olhares,
a doçura da cumplicidade invadir-te!
do it ;)

polegar disse...

subscrevo.
onde é que assino?

e, Estranho....
o texto é tão, mas tão bonito...