Não me digam as horas...
Carros e vozes agitam-me os tímpanos por cima da música que insisto em pôr baixa. O ar empurra-me gelo para os pulmões, espalhando-me o frio pela carne. As mãos só não tremem por teimosia do orgulho e os pés esfregam-se um no outro para se manterem quentes. O "Eva Luna", que comprei à pressa para te conhecer melhor, abana-se nos dedos com o vento, que aproveita para me sacudir também o cabelo, de um lado para o outro. O café, que pedi apenas para me poder sentar e esperar, já há muito que arrefeceu no estômago. Vejo as horas, olho para a rua. Procuro a frase que estava a ler e releio-a. Avanço uma página e o ritual repete-se. Os minutos passam. As horas passam. O dia passa. O sol, fazendo-me sinais nas janelas em frente, começa a pôr-se, grita-me que está na hora, que já chega por hoje, que tenho de me meter a caminho de mais uma viagem desconsolada, de mais um dia desfalcado de te ver. E eu tremo, a acreditar nele, mas tremo ainda mais ao cerrar os dentes, mantendo-me fixo onde estou, quieto, com os olhos na rua e no “Eva Luna”, que realmente comprei à pressa para te conhecer melhor. Mais cinco minutos, só mais uma página e depois vou. Prometo…
2 comentários:
;D Lindo...Beijinhos doces
movimento [in]terno. :)
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