O sabor a sal das memórias
Ouve o som da água das ondas do mar enquanto o Atlântico fustiga o seu corpo, como se soubesse que se sente sujo. Caminha sozinho, as pernas perdidas e misturadas com a imensidão do líquido translúcido e com as areias desgastadas pela erosão de milhares de anos. Passa-lhe pela cabeça que as rochas que formaram aquela areia foram pisadas por dinossauros. Passa-lhe pela cabeça que, quando era pequeno, passava horas e horas enfiado no mar, até muito depois de as suas mãos se assemelharem a ameixas secas. Passa-lhe pela cabeça que, talvez, há milhões de anos também dinossauros bebés brincassem naquela mesma água até as suas patas ficarem murchas como ameixas secas. Olha em frente, para o sol que se reflecte, quebrado pela água das ondas do mar, mas que brilha com toda a intensidade de uma estrela e que encandeia todos os que se atrevem a tentar contemplar a sua grandiosidade. Sorri e mergulha, para o fundo, as mãos, o peito, a barriga, o sexo, todo o seu corpo roça no fundo do mar, nas areias, nos seixos, nas conchas. Emerge, a pele pouco arrepiada, mas sem dúvida refrescada, o sabor do mar nos lábios. A água das ondas do mar bate-lhe na cara, lembrando-o do lado cruel do deserto marinho, do lado que afoga e inunda e afunda. Mergulha uma vez mais, debatendo-se, esforçando-se por seguir em frente, tentado deslizar como um peixe, lutando contra a corrente, a maré, a força da lua. Volta a emergir, o peito a arder por ar, os pés a desesperar por terra, o bom-senso a gritar para que volte, mas ele sabe que tem de continuar, ele sabe que, como um tubarão, se parar morre, sufoca. Volta a mergulhar, sem a certeza de ter forças de conseguir prosseguir, mas tenta. Desta vez, abre os olhos debaixo de água. A limpeza da água não é suficiente para que veja muito longe, mas, na verdade, é o som que o fascina. Nada. Não há vozes ali, não há ruídos, nem sequer o bater da água das ondas do mar, nada. Fecha os olhos para ficar a ouvir todo aquele silêncio. Mas é então que ouve um eco. E volta a ouvir o mesmo eco uns segundos depois. Como se alguém gritasse do fundo de um grande armazém vazio e o som fosse devolvido vezes sem conta pelas paredes. Emerge, nada de regresso, senta-se na areia, as ondas a quebrarem junto aos pés, a cabeça assente nas mãos, o pensamento na sua luta por vencer o mar. E então percebe, o seu pensamento está dentro daquele armazém, à procura de quem gritava ainda há pouco. Percebe que a sua luta não era com o mar, era com aquele grande armazém vazio, de paredes arrefecidas que devolvem o grito de alguém perdido no seu interior. Percebe que aquele armazém é o seu coração. Percebe que tem de continuar a lutar. Lança-se ao mar uma última vez, uma despedida, um agradecimento. Olha o sol, com o sabor a sal a irritar-lhe os lábios e sorri. Percebe que desta vez não são lágrimas que lhe irritam a boca. É a água das ondas do mar.
11 comentários:
Espero que seja um armazém enorme... :)
lindo. mesmo, lindinho.
cheio daquela - como diz o nosso Damon - "palavra cara": esperança :)
aiiiiiii o mar.....
Just a girl e Polegar, porque é que fiquei com a sensação de que vocês são a mesma pessoa?... Bom, de qualquer maneira, pegando num e noutro comentário, sim é um armazém enorme e, sim, cheio de esperança...
Pinky, acho que toda a gente tem 1 bocado de sangue elfo de Tolkien, o mar transforma-nos a alma, mesmo que por breves momentos...
Não somos ...mas temos ambas bom gosto,sem sombra de dúvida :)
eheheheh a just a girl tirou-me as palavras da boca!
mas olha lá, ó tolinho, que razão é que eu tinha para ter dois nomes e dizer-te a mesma coisa? sendo - para o bem e para o mal, na saúde e na doença, na pobreza e na riqueza, nos blogs e em pessoa, até que o meu signo mude - brutalmente sincera, esses subterfúgios são desnecessários! ;)
Oh, foi um momento de insanidade temporária, porque vocês comentaram textos diferentes num espaço de 5 minutos e, como eu tenho a imaginação hiperactiva, comecei: Ora bem, a Just a girl comentou um texto à 1:06 am e a Polegar comentou outro texto à 1:10 am... Hum, espera lá! E se a Just a girl não for mais do que uma brincadeira da Polegar?! Afinal de contas, a Just a girl apareceu pela primeira vez a comentar aqui num texto em que ameacei que processava quem dissesse que eu estava apaixonado; ora a Polegar podia muito bem ter criado esse alter-ego só para pegar comigo!!! Afinal de contas, Nunca as vi juntas na mesma sala! A Polegar e a Just a girl são a mesma pessoa! Rápido, Pink Avenger, para a bat-caverna! BONC! Ai... Ah pois, aquela parede é só uma parede...
Foi mais ou menbos nessa altura que a imaginação acalmou - sangrar abundantemente da testa e desmaiar provoca isso...
Elah!
:)*
Sinto-me impelida a minorar o teu sofrimento ... manda a conta ! hihihi...
por falar nisso... o meu fato? tou farta de salvar o mundo em pelota... até porque provoco mais sustos de morte do que realmente... salvo... :P
hahahaha isto está animado está! parece-me que os super herois estão a mostrar as suas "garras"! cooooooool
e novidades? quentinhas e frescas?
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