07/06/2006

Almas fictícias II - Tom Welles, de 8 mm

Esta rapariga que estou à procura é só mais um nome. Uma miúda que talvez tenha sido morta por causa de um filme. A fita foi encontrada no cofre de um ricaço que morreu há pouco. A viúva quer saber o que aconteceu. Talvez receie chantagem, talvez seja peso na consciência por viver num palácio enquanto outros cá fora têm de sofrer para viver. Na verdade, isso não me interessa. Pagam-me para seguir ou encontrar pessoas, é isso que faço, sem perguntas e muito menos respostas.

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Mary Ann Mathews. É o nome dela. Visitei a mãe há pouco, uma quarentona solitária à espera que lhe salte para cima e a faça esquecer, por uma hora que seja, a porcaria do mundo em que vive. Estou de saída…

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Hollywood é uma cidade suja, horrível. Aspirantes a actores em todo o lado, homens e mulheres, não, rapazes e raparigas, crianças que sonham em vez de viver. À noite percorrem os passeios a vender o corpo. Não estou interessado, procuro uma rapariga, mas sou eu quem recebe dinheiro se a encontrar… Isto é inútil!

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Uma pista, finalmente. Filmes snuff. Filmes pornográficos do mais hardcore. Geralmente, a vítima é violada e assassinada. Geralmente, ficção. Não é o caso da Mary Ann. Quanto mais vejo a fita, mais acredito que é real. Um homem, gordo e grande, esfaqueia-a a sangue frio. Depois viola-a. Tudo em grande plano. Ele tem uma máscara de couro, como a dos sadomasoquistas. Descobri uma silhueta a um canto; um voyeur assistiu a tudo… O Max, um tipo habituado a lidar com o submundo de Hollywood e que me tem ajudado – pelo preço certo, é claro - , disse-me uma coisa engraçada. Como era? Ah sim, “quando danças com o diabo, o diabo não muda, o diabo muda-te a ti”. Percebo o que ele quer dizer. Já há algum tempo que não me incomodam as merdas que temos visto, filmes com tortura de mulheres, sexo com animais, coisas muito além do suportável. Pornografia infantil é do mais leve...

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Já há muito tempo que não ligo à Amy…

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Tudo aponta para Nova Iorque. Um tipo qualquer que se considera um deus do cinema hardcore. Aliás, o bondage, o sadomasoquismo, é tudo brincadeira de crianças para ele. Diz-se que, pelo preço certo, ele filma qualquer coisa, e o assassínio de uma gaja… é qualquer coisa. Um amigo do Max arranjou-nos um encontro com o tipo e o cheiro a dinheiro convenceu-o a aceitar filmar para mim. Só pus duas condições: ele deixa-me ver e o tipo gordo da máscara – figura fetiche dos filmes dele – tem de entrar. Descubro que o gajo se chama Machine. Giro. Pelos vistos, a Mary Ann não foi a primeira. Nem a última...

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Merda! Fui descoberto! Avisei o Max para voltar para Hollywood, mas agora é tarde demais! Tenho de fugir! Sem olhar para trás. Sem pensar no que aconteceu naquele armazém. O guru dos snuffs está morto. Um acidente oportuno.

O voyeur daqui a pouco vai segui-lo, eu certifico-me disso…

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A viúva pediu-me para ir a casa dela depois de lhe contar tudo por telefone. Foi o marido que encomendou o filme. Já calculava isto, só ainda não sabia porquê. Agora está tudo claro. Sou recebido pelo mordomo. A cabra matou-se! Deixou-me um bilhete, a dizer que os esquecesse, e dinheiro. A minha família está a salvo. Tenho de encontrar o Machine antes que ele me encontre a mim

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Matei-o. À porta de casa dele, ou melhor da mãe dele. Ele não era nenhum monstro por baixo da máscara, não era a vítima de uma família disfuncional, não tinha sido violado em criança, como estava à espera. Era só um tal de George. Um tipo igual a tantos outros, miúpe, peso a mais, queda de cabelo… Vi muitos como ele, quando trabalhava no escritório…

1 comentário:

Anónimo disse...

xiiiiiiiiiiiii as coisas que ele anda a vêr......