As três últimas semanas de 2005
Choro, com uma dor que não é minha. Choro, não porque os outros choram, mas pelos motivos porque choram. Choro porque tenho frio, porque estou sozinho, a acompanhar alguém que chora mais alto, mais inconsolavelmente, mas com mais motivos do que eu. Choro porque sinto, porque me despeço de alguém que nunca conheci, mas por quem não consigo deixar de sentir revolta. Choro – sozinho.
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Espero o nascer do sol, como faço todos os anos, nesta noite, desde que fiquei com um quarto só para mim. Cinco metros à direita, com duas paredes pelo meio, oiço o meu pai ressonar, apesar de ele dizer que não o faz. Em frente, vejo as decorações natalícias pirosas dos meus vizinhos, mangueiras de luzes que atravessam o ar desde uma janela até ao limoeiro mesmo por baixo do meu quarto. Passo assim a noite, todos os anos, quieto, a pensar e à espera que o sol nasça. Depois de todos se deitarem, guardo na memória o ano que passou, não espero pela próxima semana, a minha passagem de ano é e sempre será o natal, a “festa da família” para evitar evocações a um deus preguiçoso e rancoroso. O sol nasce. Fecho os olhos. Adormeço.
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Está a chover. «PANTUFA!» Estou no meu jardim, a chamar pela minha gata «TUFAS, ANDA CÁ!» Ela fugiu, o meu pai deixou a porta aberta e ela, como sempre, aproveitou para se esgueirar para ir brincar. «PANTUFA!» Estou no jardim, a fugir de mais uma discussão acerca de estar desempregado, e o sangue ferve-me, apesar da chuva me enregelar a pele. Ao contrário do que os meus pais e irmã parecem pensar, eu NÃO gosto de estar em casa, de ser “doméstico”. Começo a sentir reservas de dar a minha opinião em casa, estou sempre errado. «PANTUFA, PORRA, ANDA CÁ!!!»
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Espero uma luz que me aqueça o corpo e uma voz que adormeça os sentidos. Durmo pouco, sempre dormi, mas sonho muito, demasiado. Vejo os dias passar muito devagar, a vida a andar pouco para a frente e na direcção contrária à que queria. Os dias repetem-se e fico sem saber se realmente o ontem acabou. Disfarço, ou tento disfarçar, a melancolia da cara, mas sei que os meus olhos gritam o que sinto. Não há, felizmente, muita gente a olhar para eles. Nunca gostei de me mostrar, nada mesmo. Seria incapaz de dizer o que acabei de escrever olhos nos olhos. A minha alma pertence-me a mim. Alguém, que já não existe, conheceu cada canto da minha essência, mas, tal como ela, “a pessoa que conheceste já não existe”…
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Há frases que me ficarão gravadas para sempre.
3 comentários:
fase escura a tua. mas fica com a certeza que a escuridão nunca dura para sempre.
os momentos bons ficam sempre conosco são parte de nós são a nossa herança das pessoas que nos rodeiam. não estás sózinho tens amigos com certeza, tens-nos a nós amigos virtuais, que apesar de não estarmos lado a lado contigo a pegar-te na mão, estamos aqui para te ajudar sempre que precisares, para te ouvir e dar força.
deixa o ano velho, já passou nada podes mudar o q já foi, guarda o bom aprende com o mau, e entra no novo ano com esperança, é um ano em branco prontinho a ser escrito a ser vivido, não será perfeito de certeza pk não há nunca nada perfeito, mas será o que fizeres dele. Enche-te de esperança, de energia, recarrega baterias, sai para a rua e não percas nem um dia da tua vida em melancolia.
a melancolia é compreensivel mas não nos ajuda, faz esse extra esforço para sair dela.
a tua vida está toda pela frente para ser vivida, aproveita-a nãao a desperdices, ganha balanço e levanta-te.
que o sol te ilumine, te traga conforto e energia, e acima de tudo felicidade. um grande ano de 2006 para ti, vais ser muito melhor, vais vêr, é só confiares em ti e ultrapassares-te...u can do it!
bjkas grandes e abraços apertados.
tanta dor... será necessário purgá-la nas teclas, por vezes. os abraços virtuais e mesmo alguns dos reais não serão suficientes.
sei que terás de ser suficiente para ti. se calhar passa por não esperares. pega em cada dia novo. em cada momento que se segue. em cada nascer do sol ou da lua. e aposta em ti. eu acredito em ti.
e continuarei a ler-te, nas dores e nos risos.
um beijo e força.
quem ganhou o jogo de futebol?
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