A morte do Amor
O nevoeiro cai, espalhando a sombra branca por todo o lado. Ouço o mar aqui perto, mas não o vejo, só às gaivotas que dormitam ainda na praia. Ao largo, as luzes de barcos de pesca brilham incessantemente, afastando-se cada vez mais da luz do farol. Ouço o mar aqui perto, mas não o vejo, as ondas rebentam na areia de forma suave, como se fizessem amor com ela. Tenho a tua alma nos meus braços. Seguro-te com força, apesar de não teres substância, como se tivesse medo de te perder. Mas tu já partiste há muito. Isto a que agora me agarro é tudo o que resta de ti, do teu verdadeiro eu, aquela que foste, aquela que foi minha e que agora não existe. Agarro-me ao que resta de ti, não porque mo tenhas pedido, mas porque te amava, porque precisava de me agarrar a ti, à minha vida. Mas agora morreste e tenho de te deixar partir, para podermos descansar os dois em paz. Cobri-te com o lençol mais imaculado que encontrei. Trouxe-te aqui, onde tu vieste há muitos anos com o teu tio, à Foz, perto da estátua do Homem do Leme. É aqui que te deixo. Beijo o que resta do teu ser, pouso-te na água e tu afastas-te, a boiar, cada vez mais para longe, já quase não te consigo ver, passas a linha do horizonte e é nessa altura, no preciso momento em que deixo de te ver, que percebo que partiste. Afasto-me, na direcção do nevoeiro. Não quero ver o mar agora, apesar da lágrima que fugiu do meu rosto e que corre agora na direcção do mar, atrás de ti. Não quero ver, não te vou seguir e por isso não preciso de te ver. Tu morreste e eu estou vivo. Usarei preto por ti, de vez em quando, quando tiver saudades do tempo que passou, muito de vez em quando. Lembrar-me-ei de ti sempre, principalmente quando me cruzar com a nova (e detestável?) pessoa que és. És uma sombra do que eras. Não como esta, branca e calma, que o nevoeiro espalha, mas uma sombra negra, fria, má, como se tivesses enterrado tudo o que amava em ti para que passasse a detestar-te. Não te detesto. Na verdade, só consigo sentir pena. E em breve, nem isso. Fui o último a desistir de ti; e agora? Quem te resta?
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(Tanto silêncio, neste e noutros blogs, deve-se a uma total ausência da minha alma em mim próprio. Apatia. Completa ausência de inspiração e, ainda pior, de vontade de escrever. Talvez este seja o retomar da normalidade, talvez seja o último durante alguns dias... Vamos ver...)
2 comentários:
do amor, que dizer quando morre?
que as lágrimas fertilizam o chão. e em breve renasce. do nada. novo ou velho. perene ou eterno.
essa alma que flutua no mar, ali permanecerá, junto a tantas outras. que bonitas foram e deixaram de o ser, perdendo o direito à pureza da água.
a tua alma, essa sim, bonita e ainda transparente, apenas está cansada. mas fértil de lágrimas, à espera do sol no meio do nevoeiro. aí, meu amigo, renascerá o amor. sob outra forma, noutro corpo, noutra alma.
sei que sim.
quanto a ausentares-te... que remédio tenho de respeitar. mas acredita que para escrever ainda tens muitas palavras. um beijo e um abraço apertadinho
mas quando voltas é com estas palavras lindas.
acho que todos os meios, ditos artisticos, são como um expurgar de sentimentos, de dor, de felecidade de tudo o que não se aguentada fechado e encerrado.
parece-me que usas a escrita nesse sentido, se assim for, só fará sentido escreveres quando disso sentires necessidade.
é a tua maneira, é a tua vontade e é o teu blog!
mas digo-te que vale sempre a pena esperar pelos teus posts, são maravilhosos, e como tal só temos que agradecer por partlhares connosco. obrigado. bjkas.
p.s. um dia ainda te hei-de lêr luminoso, a raiar felicidade!
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