O Segundo Regresso
Voltar, 12 dias depois. Chegar a casa, desfazer a mala, passar as fotografias para o computador, guardar panfletos, pauzinhos, penas e bilhetes de recordação. Contar o que se viu, descrever o que se sentiu, explicar tudo o que se ouviu. Recordar a chegada a Londres, a simpatia de pessoas que são injustamente acusadas de frias e insensíveis, pessoas que nos abordam para perguntar de onde somos e para nos desejar uma boa estadia, gente que, se por nenhuma outra razão, cumpre a obrigação de dizer “por favor”, “obrigado” e “desculpe”. Atravessar, desta vez em pensamento, os Kensington Gardens até ao Hyde Park, falar com um velhote que alimenta os patos e os trata pelo nome próprio, apanhar o metro em Bayswater até à estação de Piccadilly Circus e ficar deslumbrado com a série de cinemas, pubs, discotecas (ou clubs, para não parecer tão foleiro…) que circundam as ruas, andar até aos poucos edifícios a que, jocosamente, chamaram Chinatown, entrar num restaurante, ficar pasmado a olhar para dois pedaços de céu em forma de olhos e receber um sorriso de "apanhei-te!", experimentar uma Guiness num pub ali perto e ficar a olhar para a janela na esperança de voltar a ver os dois pedaços de céu. Descansar, numa espelunca ideal para poupar uns trocos, e visitar aqueles monumentos, aqueles locais obrigatórios, tudo em passo de corrida, 3 dias passam demasiado depressa, quando se está a gostar. Depois, a partida. Voar, outra vez, agora na direcção do centro da Europa. Esperava-nos uma das cidades mais apetecidas do Velho Continente. Chegar, já de noite. Ser enganado por um taxista que nos levou a dar uma volta ao bilhar grande pela cidade (será que os taxistas são burlões em todo o mundo?!), mas nada de que já não estivéssemos à espera. Tentar adormecer, com receio de que se devia ter ficado em Londres no fim da viagem, Praga vai ser uma desilusão, expectativas altas de mais… Apanhar o Tram até ao centro. Começar a vaguear aleatoriamente pela cidade. Entrar numa praça, igual a muitas outras em Praga, mas como nada que alguma vez tivéssemos visto. Abrir a boca em admiração. Tirar fotografias atrás de fotografias (porcaria de máquina foleira…), embrenharmo-nos pelas ruas e descobrir um edifício imponente, lindo e antiquíssimo em cada esquina, comentar o aproveitamento daquele tipo de edifícios para fazer centros comerciais, mas realmente só há aquele tipo de edifícios, por isso nem se perde nada. Caminhar pelas ruas, à noite, em busca de um sítio agradável onde tomar um copo, oferecerem-nos “Marijuana, haxixe?” ou ainda “Sex, blow-job?” e até (e este fez-me rir como um desalmado no meio da rua!) “Hey, guys, come to this cabaret, beautiful girls, big boobies, blow-jobs, masturbation, sex shows! Midgets, sex with midgets, midgets blow-job, midget masturbation!” (Anões, pá?! Mas que raio de tarado tem fetiches com anões?!). Vaguear, vaguear, vaguear… Toda a cidade é um enorme museu, um emaranhado de ruas e ruelas delimitadas por edifícios que viveram séculos… Qualquer tentativa de descrição é vã e uma enumeração seria insuficiente, para não dizer impossível. Passar o último dia (o avião de regresso era só às 21:00) à beira-rio, a ouvir o barulho da água e a olhar para o Castelo de Praga lá ao longe… Constatar, com um travo de divertimento, que está um velhote só em cuecas a pescar dentro do rio. Lamentar não se ter visto tudo (teremos visto metade, sequer?!) e “gozar” com as pessoas que dizem que Praga se vê em 3 ou 4 dias (que disparate! Mesmo que se passe o dia a correr de um lado para o outro, a picar bilhete atrás de bilhete, o esplendor de Praga não se vê nem numa semana!). Kafka escreveu que Praga nunca nos deixa partir, é como uma mãe com garras, e que, para poder partir, seria preciso incendiar a cidade, só assim se estaria livre...
Como eu o percebo…
2 comentários:
e viajar faz tão bem, mesmo que em texto
obrigada por me tirares daqui por um bocadinho...
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