Devaneios
28 de Junho de 2005. Lembrei-me de escrever qualquer coisa antes de me ir deitar. Estou cansado de portas automáticas (o último trabalho do estágio arranjado à pressa para não ficar uma semana sem fazer nada...) e apeteceu-me escrever qualquer sobre a chuva inesperada que caiu há pouco. Cometi o erro de querer começar o texto com a data de hoje. Há precisamente 5 anos atrás, estava a mandar uma mensagem a alguém para tentar obter uma resposta, que se veio a revelar positiva e que me deixou muito (MUITO) feliz. Mas isso agora não interessa! Não interessa mesmo! Só daqui a seis meses poderá voltar a interessar, mas para já não!
O burburinho começa de repente. Há meses que não o ouvia e demorei um pouco a identificá-lo. É impossível descrevê-lo como algo mais do que um simples bater leve no telhado. Sim, ainda é ao de leve, a verdadeira tempestade começará mais tarde, numa outra vida talvez. E então, nessa altura, confessarei tudo, admitirei que matei o velho cego e gritarei “Villains! Dissemble no more! I admit the deed! --tear up the planks! here, here! --It is the beating of his hideous heart!” – Poe, odeio-te! Mas só nessa altura, não antes. Por agora, contenho-me, apesar de o burburinho se começar a tornar em ruído. As centopeias começam a sair dos seus refúgios. Há demasiada humidade no ar, sinto os pulmões a começar a fraquejar, sei que se aproxima a tempestade. Mas isso não me assusta. Aprendi a usar a máquina de costura, posso criar um agasalho seco se precisar. A luz vai abaixo, “at the speed of sound, to show how it all began” – Coldplay, seus nojentos! Algumas portas automáticas têm baterias que permitem o uso normal durante algum tempo. Ainda bem, não queria ficar fechado cá dentro. Olho em volta, há centopeias em todo o lado, às centenas. Sinto necessidade de berrar, mas só me saem as 8 regras do Fight Club – Palahniuk, és um parvalhão! Lembro-me do Sin City, penso na Nancy Callahan, fico excitado, tenho uma erecção, não sei o que fazer em relação a isso, mato uma centopeia que estava prestes a transformar-se no Gregor Samsa - Kafka, és um idiota e tu , Frank Miller, um chupista!
Acordo, encharcado em suor, ainda a tentar afastar centopeias. Sinto-me exausto, sujo e impotente. Felizmente que tudo isto é, ainda, um sonho, por isso, nem me vou dar ao trabalho de me desviar do tubarão que se dirige a mim. Há uma fila enorme de monstros e fantasmas que me querem atacar, mas não ligo, tudo isto é só um sonho. De manhã, vou acordar, vou lembrar-me do Mark Renton a dizer “Choose life!” e do Tyler Durden a dizer “Fuck damnation, fuck redemption! We’re God's unwanted children? So be it!” e vou saber que estou bem. Só preciso de paz e sossego para descansar.
E já agora, mato mais uma centopeia. Cambada de pêgas...
3 comentários:
busy night, huh?
não há centopeias na realidade que pisas agora. não sei se é melhor ou pior. espero que seja melhor. um beijo
Por muito que custe, a realidade é sempre melhor. E a noite até foi interessante; diverti-me a escrever este texto, e tudo graças a uma centopeia real que matei minutos antes... E agora ler a versão original do "Fight Club"! Alguém está interessado em juntar-se a uma versão portuguesa? "In Estranho we trust..."
o fight club é uma bíblia, meu caro. qualquer adaptaçao à realidade deve ser frutífera... first rule of the fight club is: we do not talk about fight club... second rule of the fight club is...
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