24 horas de consciência
Madrugada, entre o mar e o jardim. Dezenas de corpos saltam em uníssono, uns equilibrados, outros a apoiarem-se em copos ou contra a madeira mal pregada de uma barraca. Cinco ou seis animadores puxam pelo momento, fazem-nos agitarmo-nos ao som de espécies de música, não interessa, os copos continuam a saltar com os corpos. Outros corpos, em busca de outras espécies de música e de copos, acotovelam-se para passar. Uma calcadela aqui, um empurrão ali, uma ameaça de um encontrão um pouco mais violento, não interessa, todos se divertem, todos estão contentes, todos saltam ao ritmo de espécies de música e de copos. De súbito, reparo numa série de luzes por trás dos animadores. Cegam-me. É então que percebo que os meus saltos, que a minha alegria não é provocada pelos copos. Já o devia ter percebido pela alegria moderada, mas quis acreditar que era apenas por não estar habituado a dançar e muito menos a festejar. É então que me apercebo de estar consciente. É então que me apercebo de uma outra luz, a passar ao longe, afastada dos corpos e, agora, dos copos. Uma ambulância tentava avançar. Consciência. Paro, de repente, de saltar. Estou sozinho, rodeado de um mar de gente que nem se apercebe de que, naquele momento, alguém acabou de sucumbir ao ultrapassar do limite. Talvez, realmente, me tenha esquecido de como me divertir. Dou por mim a pensar que talvez nunca me tenha, realmente, divertido. Sei que a vida que vi não é vida, pelo menos não a que eu quero, mas também sei que, naquele momento, eu era a pessoa mais triste, ou melhor, a menos alegre que estava naquele recinto. Sei-o porque o vi, porque o senti. Porque estava consciente e porque confirmei de que preciso de muitos mais copos do que os que segurei para deixar a consciência. Beber para esquecer? Sorte tem quem consegue, mas eu não preciso de esquecer para viver. Não preciso de alguém para me segurar o cabelo enquanto vomito, preciso é que estejam comigo nestes momentos de festejo, porque eu tento – e quero acreditar que consigo – divertir-me, mas compreendam isto: eu fico consciente e a minha diversão acaba quando me apercebo disso. Maneiras de ser diferentes? Maneiras de ver a vida diferentes? Oh amigo, tem que ser, não é?!
4 comentários:
há momentos em que a consciência, de facto, dói. muito. mas e ver as coisas de outro prisma? quando te divertes a valer e estás consciente, a sensação não é muito melhor, mais intensa e real que aquela dormência ébria em que não sabes se estás mesmo a viver ou a sonhar que vives?
anyway... obrigada pela força lá no polegadas. é bom confiar na simpatia de estranhos... ;) muitos beijos.
Sem dúvida que é muito melhor e até prefiro, quanto mais não seja porque assim não uso aquelas desculpas esfarrapadas do "Ai, tava bêbedo, não sabia o que dizia..." ou "Ai, disse-te que gosto de ti e tu rejeitaste-me??Não me lembro de nada!" :)
Não tens nada que agradecer, afinal de contas os estranhos são para as ocasiões!;)
o que te hei-de dizer que não te tenha já dito?... Não sou eu senão o rei das noites sóbrias no meio de amigos (e não só) que teimam em fazer de conta que são corajosos? Rei talvez não... E verde também não... Odeio aquela fotografia!
vens ao meu blog dizer que andas mal disposto, mas não contas aqui porquê... se quiseres desabafar me privada para uma completa "Estranha", sabes onde encontrar o meu mail, pois sabes??? beijos e as melhoras
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