07/02/2005

Juíza de Deus

Anjos vieram buscar-me esta noite, anjos nus e sem rosto que me levaram até às estrelas, até à Juíza de Deus. Ela esperava-me lá, para me julgar e condenar. Era um anjo também, um anjo de olhos castanhos, cheios de raiva... não... raiva, não... desilusão... sim... Desilusão e sede de vingança! A minha existência atormenta-a e por isso devo deixar de existir, de sentir, de estar vivo para o mundo. Num ápice, aponta-me a lança que trespassou Cristo e avança, rápida, silenciosa, fria. Mas... A um metro de mim detém-se. Uma lágrima escorre-lhe pelo rosto, caindo na Terra e provocando chuva, uma chuva que limpa o mundo de impurezas. Percebo que não é capaz de me matar... Então, movido por um impulso, beijo-a, enquanto lhe tiro a lança das mãos. Quando os nossos lábios se separam, digo-lhe adeus e peço-lhe desculpa. Cravo a lança no meu peito e a última visão que tenho são os olhos dela... castanhos... tristes... arrependidos...


3 comentários:

Anónimo disse...

Tanta sensibilidade num só ser humano...

Damon disse...

Reescreve a ultima frase. Parte a lança e aproveita a sua madeira para criar um fogo que nao doa. Um fogo que aqueça. E disso que precisamos. De fogo que aqueça sem destruir. (e ja agora de acentos nesta m+*&a!!!)

Anónimo disse...

Fizeste com que alguém derramasse umas lágrimas depois de ler em voz alta este texto a duas raparigas lá de casa...
Lá está a tal sensibilidade...