É a vida... ou a ausência dela - Parte III
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Rita. Rita era a única pessoa que sabia realmente quem era Daniel. Cruzaram-se na faculdade quando ele tinha 19 anos. É um ano mais velha, mas algumas disciplinas atrasadas fizeram com que se conhecessem, através de outros alunos. Ao fim de um ano, Rita apercebeu-se do casulo em que se escondia Daniel. Nessa altura, a pergunta “Já reparaste que nunca me contaste o que quer que seja acerca de ti?” apanhou-o completamente desprevenido. A verdade é que nunca ninguém tinha mostrado interesse em conhecê-lo. E então aconteceu. Daniel abriu-se. “Tenho 20 anos. Teria um irmão gémeo, se ele não tivesse morrido à nascença, o que me faz questionar se só haveria espaço para um de nós no mundo. Toda a minha vida ponderei nisso e não consigo deixar de pensar como seria ter alguém com quem partilhar a minha infância. Os meus pais sempre tiveram demasiado cuidado comigo em alguns pormenores, como as pessoas com que ando, o que acaba por me fazer sentir um bocado oprimido. Acho-me chato, desinteressante, idiota, ridículo e lamechas. E o pior de tudo é que acho que estou a apaixonar-me por ti! Era isso que querias ouvir?”. Foi a vez de Rita ser apanhada desprevenida. Engoliu em seco enquanto pensava no que havia de dizer, quando, de súbito, se apercebeu do que ouvira. Ao dizer “Desculpa, importas-te de repetir as últimas frases?”, deu início ao período mais feliz na vida de ambos. Que, infelizmente, acabou passados dois anos.
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