02/11/2004

É a vida... ou a ausência dela - Parte II

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A decisão fora tomada há um mês, mas só esta manhã se resolveu verdadeiramente. “É hoje, já não aguento mais! Tem que ser esta noite!”. É sábado de manhã. José e Maria, os pais de Daniel, estranham que, por um lado, o filho se tenha levantado a tempo de tomar o pequeno-almoço com eles – algo raro em tempo de aulas – e, por outro, que o filho venha a cantarolar – algo que já não acontecia há mais de um mês.

- Não me digas que estás a chegar agora a casa?! – diz José, a sorrir.

- Claro, pai! Eu vou sempre de pijama quando saio à noite!

- Queres que te prepare alguma coisa?

- Não, mãe, deixa estar. Apetece-me cereais, hoje.

O resto do pequeno-almoço é passado em silêncio. A verdade é que este jovem que está sentado em frente a José e Maria é um completo estranho. Pouco sabem do filho, pouco mais além de alguns amigos e o que estuda. Isso, descobriram mal se decidiu a ir para a faculdade. “Psicologia. É isso que quero seguir.” E o assunto ficou por aí. Não é que alguma vez tenham sido negligentes com ele; nunca o maltrataram e poucas vezes lhe bateram, até porque, de resto, Daniel sempre foi uma criança sossegada. A verdade é que Daniel conseguiu sempre manter-se uma incógnita para quase todos os que o rodeiam. Era capaz de ouvir horas a fio alguém falar sobre os seus problemas, mas à pergunta “E tu? Como estás?”, respondia com um “Bem, obrigado. Viste o jogo ontem?” e desviava a conversa. O facto de Daniel ouvir e não falar era um dos motivos porque alguns dos amigos gostavam tanto dele. Era simpático, ajudava os outros, ouvia e não maçava ninguém com problemas, era o amigo perfeito!

“Sim, definitivamente, é hoje…” pensou mais uma vez, enquanto arrumava a loiça, mais tarde, depois do almoço. “Tenho que lhe ligar. Rita…”


1 comentário:

Damon disse...

Prossegue...